27/03/2010

No quintal dos silêncios










Sempre me acordam os passarinhos com a cantoria desmedida que preparam pra receber a manhã. Mas hoje o canto espaçado e tristonho, num quase silêncio,  anunciava que alguma coisa havia acontecido.

A primeira vista da janela foi estarrecedora. O quintal onde a chuva tanto desfilou por esses dias, fazendo brotar uma variedade impressionante de verde, estava aberto à flor da terra. Como se nunca tivesse  recebido a visita de um mato sequer. Pude entender pelo comentário de um pássaro no telhado,  que a enxada, sorrateiramente, passou a madrugada fazendo a devassa.

Não tendo como escapar à fúria da enxada, o amontoado indefeso jazia num canto do quintal.  Já ressecando aos primeiros fachos do sol.
O cenário silencioso era velado por xuxus dependurados nos quatro cantos do muro. Também uma ameixeira próxima ao amontoado, desconsolada, sentia muito o acontecido.


(SM)
Tela: No quintal dos silêncios de Martha Barros

3 comentários:

  1. as vezes a natureza é tudo tão sutil e vive em tão completa pequeneza que as mãos de um humano nao tocam e nem sentem a importância de todas as formas de vida.

    mais que um drama, este teu poema é uma alerta.

    Lindo!!!

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