27/04/2011

outono












um friozinho já corre solto pelas bocas da noite. se enrosca nas esquinas das manhãs sonolentas. enquanto as primeiras flores de maio abrem os olhinhos, uma palmeira enfeita de sementes a vasta cabeleira. e no alto do morro as tardes andam a desmaiar em tons de total aberração.

(SM)
Tela de Martha Barros: Outono


24/04/2011

primórdios
















_ de onde vem o medo?
_ de algum lugar escuro e abandonado do mundo!
_ e se o medo tem medo, porque vive abandonado no escuro?
(...)
_ a gente bem que podia virar o mundo e tirar o medo do escuro. mas é preciso coragem pra encarar o tal medo.


(SM)
Primórdios: tela de Martha Barros

22/04/2011

profundos desejos














uma chuva pesada desceu pela beira da tarde. se juntou à água escura do córrego da ponte abandonada. sob o olhar delicado de uma flor roxa, desceu roçando pedras na margem, arrastando sacolas de lixo e latas enferrujadas em direção a uma queda de muros destroçados.

a flor roxa na ponte, desejou ser a chuva forte que corria para além da ponte esquecida. é que ela não sabia que o córrego da ponte abandonada desembocava no bueiro escuro da esquina.


(SM)
Tela de Martha Barros: Profundos desejos