26/01/2010

Sem problema

















Sônia ia só
porque queria

Julia só não ia
porque não queria

só João não ia
porque não podia
mas prestava muita atenção!


(SM)

20/01/2010

Com toda a linha














enquanto me despeço da tarde na janela, três pipas me chamam a atenção. muito altas. silenciosas. fazem lindas acrobacias. meus pensamentos não resistem e se juntam a elas. somos pássaros soltos no acabamento da tarde.


(SM)

19/01/2010

Curiosidade













o que fazem os passarinhos à noite, onde na casa-árvore o silêncio é total? será que ficam quietos porque têm medo do escuro? e se combinam de não dar um pio pra descansar a garganta? afinal, às sete já tem cantoria para despertar a manhã.


(SM)
Tela: Casa de pássaros de Martha Barros

17/01/2010

Roda viva



briha a primeira estrela
o sol já foi embora
a noite fecha as janelas
o dia fica de fora

o dia vai passear
despontar noutro lugar
a noite se veste de prata
vai se encontrar com o luar

mas a tarde logo aparece
e o dia tem que voltar
então de mansinho clareia
para a noite ir descansar



(SM)
Tela: Perfumes da manhã de Martha Barros

16/01/2010

Revoada

.
















Seis horas da tarde. é a hora em que os passarinhos se reúnem após um dia inteiro de voar pra lá e pra cá, pousar aqui e acolá, saracutear no chão e no ar. o retorno à casa é barulhento e festivo. todos trilando ao mesmo tempo. posso imaginar o que tanto comentam - contar das lonjuras por onde passarinham nas horas do dia é assunto que rende muitos gorjeios. lentamente a tarde se despede - nesse fundo musical alegro molto.


(SM)
Tela: Revoada de Martha Barros

15/01/2010

Zezinho

toda manhã a vó acorda com o barulhinho de água escorrendo na pia do banheiro. e quando sai da cama pra preparar o café, ele ainda está pegado no sono. um tempo depois ele se levanta e toma o café fresquinho. dá uma volta pela casa e não resiste à poltrona da sala - já emenda um cochilo. desperta com o cheirinho da comida que a vó preparou. almoça bem e distraidamente, limpa a boca no pano de prato. depois do banho, a vó vai conferir o chuveiro, ele quase sempre deixa meio aberto. mas a vó não liga, é amorosa. apenas exclama: ah Zezinho...



o netinho, já acostumado completa:  _liga não vó, o vô faz assim porque ainda está aprendendo.

(SM)

14/01/2010

O Ve n to













Já vem o vento afobado
Varrendo tudo a sua frente
Sujeito que vive agitado
Já evém descabelado

Dobra a rua do sobrado
Sobe e desce escadaria
Bate portas e janelas
Provocando correria

Pula o muro das casas
Tira as roupas do varal
Anda apressado assim
Pra avisar que evém temporal

De repente o vento quieta
Enquanto a chuva aperta
O vento estabanado
Agora venta parado

Vento medroso o coitado
Se esconde na casa quietinho
E depois que a chuva passa
Volta a ventar fresquinho


(SM)
Tela: Ventania por Martha Barros

13/01/2010

Espetáculo












bem amanhece e ele já está se espremendo para passar entre as frestas da janela. já chega iluminado! 
as poeirinhas já o esperam aflitas em vestes de purpurina. a cena é urgente - antes que Sônia entre no quarto com vassoura e pano úmido em punho e as arraste casa afora, dramaticamente, para sacudí-las na varanda.
mas na manhã seguinte, lá estão elas de novo, as poeirinhas brilhantes, para ao primeiro facho de luz repetir o espetáculo. acho que voltam nas asas do vento.


(SM)

12/01/2010

Vinda









O ônibus que vem do interior
traz a Patricinha que foi ver a tia,
o Custódio com bagagem gostosa
(cheira a queijo, lingüiça e fatia),

e traz D. Maria que especula o Custódio
enquanto a viagem não passa.

No caminho de volta
tem cidades pequeninas,
igrejinha abandonada,
pé de manga, pequi e mangaba.

Tem cochilo, cochicho e boa prosa,
enquanto a viagem não acaba.


(SM)
foto de Lisandro Staut/Olhares.com

11/01/2010

Adivinha


















_Essa matula cheirosa é doce?
_É não.
_É linguiça...
_É nada!!
_É queijo que eu sei...
_Tá ficando quente!


(SM)
Foto de Camilo Pina Cabral/Olhares.com