29/05/2011

cheiro azul de luar













nuvens se amontoam pelos cantos da noite fria. estrelas geladas se grudam umas nas outras para agüentar uma noite inteira. e a lua alta no céu, farol sem pressa, faz clareira.


(SM)
Cheiro azul de luar: tela de Martha Barros

27/04/2011

outono












um friozinho já corre solto pelas bocas da noite. se enrosca nas esquinas das manhãs sonolentas. enquanto as primeiras flores de maio abrem os olhinhos, uma palmeira enfeita de sementes a vasta cabeleira. e no alto do morro as tardes andam a desmaiar em tons de total aberração.

(SM)
Tela de Martha Barros: Outono


24/04/2011

primórdios
















_ de onde vem o medo?
_ de algum lugar escuro e abandonado do mundo!
_ e se o medo tem medo, porque vive abandonado no escuro?
(...)
_ a gente bem que podia virar o mundo e tirar o medo do escuro. mas é preciso coragem pra encarar o tal medo.


(SM)
Primórdios: tela de Martha Barros

22/04/2011

profundos desejos














uma chuva pesada desceu pela beira da tarde. se juntou à água escura do córrego da ponte abandonada. sob o olhar delicado de uma flor roxa, desceu roçando pedras na margem, arrastando sacolas de lixo e latas enferrujadas em direção a uma queda de muros destroçados.

a flor roxa na ponte, desejou ser a chuva forte que corria para além da ponte esquecida. é que ela não sabia que o córrego da ponte abandonada desembocava no bueiro escuro da esquina.


(SM)
Tela de Martha Barros: Profundos desejos

03/03/2011

natureza viva














nessa semana de chuva tudo quanto é pé de mato veio se refugiar no quintal da janela. ao sabor do vento e das manhãs passarinhas já brotou flor e borboleta. bem no cantinho do muro, uma vaidosa palma passa as horas do dia ajeitando a sainha vermelha.


(SM)
natureza viva: tela de Martha Barros

24/02/2011

raízes da fala II











um bando de maritacas invadiu esse meio dia nublado rumo às palmeiras em desflorimento. eram muitas e travavam uma conversa ensurdecedora. corri pra janela atraída por tamanha confusão. mas não entendi uma virgula do alvoroço, falavam muito alto e todas ao mesmo tempo.

(SM)
Raízes da fala: tela de Martha Barros

21/02/2011

gavião na paisagem













um gavião desavisado surgiu na paisagem desta manhã. driblou o ar, quebrou o vento e se jogou de bico na copa da árvore. passarinhos de cabelo em pé espirraram pra todos os lados. o gavião bicou asa de passarinho no ar, bicou o vento por muito tempo e cansado foi bicar noutro lugar. para alívio dos pequenos que puderam recomeçar a cantoria de onde haviam parado.


(SM)
desenho de V. Corleone (janela em azul e rosa)

20/02/2011

luz que murmura

irresistível o convite da lua alta enfeitada de nuvens prateadas. um a um os grilos se incumbiram do arauto e as criaturas da noite foram se achegando para o lual na mata.


(SM)
Luz que murmura: tela de Martha Barros

21/01/2011

bicho solto



enquanto eu corria sem rumo na manhã azul, um miúdo pardal chegou bem perto, passou por mim e seguiu caminho. meu pensamento pegou carona nas asinhas frágeis, rumo à paisagem ensolarada.


(SM)
Tela: Bicho solto de Martha Barros

02/01/2011

ternuras do ocre













as árvores do morro alto acenam para a tardinha esmaecida. enquanto a noitinha se anuncia rodeada de ventos frescos, grilos abraçam o silêncio e sapos gordotes engolem nuvens vermelhas.


(SM)
Tela: Ternuras do ocre de Martha Barros