hoje uma fumaça escura se espalhou pelo ar. e sem dó manchou de cinza
a barra da manhã azul. espantou gente e passarinho. sapecou inteira a roupa
do morro. nenhuma janela a se agüentou de dor.
um passarinho rasgou o céu desta manhã de azul. foi se encostar na parabólica mais alta. os dois pousados em fundo royal. talvez conversem sobre o frio aparecido, o sol que engana, manhãs modificadas ou sobre dias que prometem. ninguém sabe. só uma certeza: lá de cima a visão desta manhã deve estar qualquer coisa de bonita.
um homem e um negro cão despontaram na esquina desta manhã gelada.
seus olhos refletiam estradas compridas e empoeiradas. se via que eram delimitados pela ausência de sonhos. em silêncio dobraram a esquina.
é que hoje sob o olhar fixo e radiante da ameixeira, no monte do mato capinado que jazia ao pé do muro, brotou um pé de taioba verde e viçoso.
e uma borboleta já faz rodeios no monte. sinal que outros brotos estão a caminho.
quando eu era pequena, queria ser como ela: cedo tomou rumo da cidade para ir de encontro a seu sonho. destino de coragem que inspirou muitos desejos de vôos. mas tendo se distraído com as novas paisagens do caminho ela se esqueceu do sonho.
(...)
muito tempo se passou. hoje ela conduz um olhar que mede distâncias. quase não sorri. acredito que guarda nos olhos a lembrança do sonho esquecido.